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  • Foto do escritorCachoeiras Seguras

Acidentes e Processos Judiciais

Será que acionar a justiça traz alívio com relação a certos acidentes nos quais somos as vítimas? Que outras motivações existem para esse procedimento?


Virgínia Miranda & Dr. Eduardo Barbosa

por Virgínia Miranda


Vale a pena entrar na justiça? Ouvi essa pergunta algumas vezes, ela apareceu inclusive na Live que participei no Perfil do Movimento Infinito @infinito.etc


Quando perdemos alguém, ou quando algo ruim nos acontece, a primeira coisa que nos vem à mente é procurar culpados, e logo surge um sentimento de vingança.

 

Isso aconteceu também comigo... Eu já tinha até deixado pra lá, mas com a sugestão da ONG @feriasvivas de que eu deveria sim abrir um processo judicial, que seria importante também como regulação social, e depois de muito pensar, resolvemos entrar na justiça.


Em 2017 ingressamos com o Processo por Danos Morais, pois meu filho ficou caído no local do acidente - em um complexo de cachoeiras - por 3 dias cheios: ele entrou pela entrada principal da cachoeira, onde existe guarita, estacionou seu carro, preencheu ficha de entrada com seu nome e telefone de contato do pai, e sequer perceberam que ele entrou e não saiu... O carro ficou no estacionamento por todos esses dias e ninguém se preocupou em saber a quem esse carro pertencia. Ele foi encontrado porque nós, da família, mobilizamos autoridades de segurança pública e equipes de resgate em sua busca. Essa demora em encontrá-lo mudou todo o rumo dos ritos de sua morte. No princípio de meu luto, isso gerou muita revolta e raiva.


Nosso advogado foi o Dr. Eduardo Barbosa, autor do livro: A História não Contada do Maior Acidente da Aviação Aérea Brasileira (publicado em 2018) - sobre o desastre com um avião da TAM, ocorrido em 2007. Ele  é especialista em processos com indenizações.


Ao final do processo judicial, depois de muito estresse emocional, eu não quis ler os autos, para evitar mais tristeza. Ganhamos o processo em 2019. Do ponto de vista financeiro foi irrisório, e não foi isso o que nos motivou para o processo, mas sim o que um resultado positivo significa, sua importância tanto para mim, quanto para a sociedade em geral: ficou como uma lição, um alerta para que respeitem mais a vida humana. Que visem mais a diversão segura e menos o lucro. Ficou a mensagem: em cachoeiras todo cuidado é pouco.

 

Mandei até  fazer um outdoor.


Outdoor em Brasília-DF, 2019

E me senti aliviada, como se ao final de uma briga todos entendessem que a gente "tinha razão". Mas sempre fui ciente de que podíamos perder o processo (de que poderia acontecer do sistema judiciário não reconhecer os erros do estabelecimento). Seria mais uma perda! ⚠️


No livro sobre o acidente aéreo da TAM,  Dr. Eduardo relata bem isso, a revolta e indignação de quem perde quem ama em um acidente talvez evitável. A tristeza e a busca por culpados, uma busca que achamos que traz alento. A dificuldade de lidar com a dor, a burocracia que a morte requer e a necessidade do apoio jurídico.


Hoje agradeço por não ter podido ver meu filho sem vida. Lembro dele sereno, com seu rostinho lindo sorrindo para mim. Isso é amor! Ele fica e vou cultivá-lo para sempre...


A raiva, os porquês vão se dissolvendo com o tempo.



Quanto à justiça? Creio que a de Deus é implacável. A dos homens nem sempre nos traz paz.


Parabéns, Dr. Eduardo, pelo livro, e agradecemos pela solidariedade durante todo o nosso processo.


Meu amor a todos que perderam seus entes queridos no acidente aéreo da Voepass recentemente (na queda de uma aeronave da Companhia Voepass, em 9 de agosto de 2024, em Vinhedo, SP - faleceram 62 pessoas).



Em 2019, quando recebemos o resultado do Processo por Danos Morais, publicamos nas Redes Sociais:



Ilustrações: arquivo pessoal de Virgínia Miranda



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