Atualmente, turismo baseado na natureza (nature-based tourism) é o setor com maior índice de desenvolvimento na indústria do turismo. São diversos nomes que denotam as atividades em foco ou as preferências dos órgãos reguladores e dos países: Turismo de Aventura, Ecoturismo, Turismo Rural etc. e o fundamental é o direcionamento para a natureza.
Nesse ramo do turismo, segurança é um dos itens mais importantes a ser considerado devido o tipo de contexto e atividades desenvolvidas.
Formação qualificada é prevenção de riscos
Atividades na natureza são potencialmente arriscadas e os anos iniciais de amadorismo nos serviços oferecidos resultaram em inúmeros acidentes graves e fatais. Diante desse quadro, países se organizam e a Organização Mundial de Turismo se manifesta com discussões, assessorias e propostas de melhoria para um turismo responsável.
No Brasil, o Ministério do Turismo recebeu positivamente a proposta de regulamentação apresentada por um grupo de instituições que, juntas, desenvolveram um projeto de normalização e certificação para o Turismo de Aventura. Foram elas: a ABETA (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura), a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).
Fundada em 1940, a ABNT é responsável pela normalização brasileira. As Normas são evolutivas e passíveis de revisões periódicas e as Normas para o turismo não poderiam ser diferentes: estão sujeitas a essas revisões com participação da Sociedade brasileira como foi desde sua criação. O processo brasileiro de normalização é considerado um dos mais democráticos e bem elaborados, servindo de referencial internacionalmente.
Essa elaboração e estabelecimento das Normas ABNT para o Turismo de Aventura teve participação fundamental de Silvia Basile, fundadora da ONG Férias Vivas, que vem, ao longo dos anos, trabalhando na prevenção de acidentes no turismo com publicações e assessoria em cursos, entre outras atividades. Com o intuito de melhorar a qualidade profissional, contribuindo para mais segurança, várias empresas foram credenciadas para formação baseada nessas Normas.
No Rio Grande do Sul, em Nova Petrópolis, e em outras cidades do Estado, a NOMAS-Descobrir é Preciso – empresa dedicada a cursos e consultoria a projetos de Turismo de Aventura, Turismo Rural, Ecoturismo, Enoturismo etc. – costuma realizar formação com base nas Normas ABNT para o Turismo de Aventura.
Entrevistamos o instrutor Luis Marcelo Rodrigues, Diretor Técnico da empresa, que falou sobre o papel das Normas ABNT hoje no Brasil.
Cachoeiras Seguras - Qual a importância das Normas Brasileiras ABNT para o Turismo de Aventura no Brasil?
Luis Marcelo Rodrigues - O desenvolvimento, publicação e aplicação das Normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) foi um marco decisivo para separar os amadores dos que realmente querem primar pelo valor agregado nos seus produtos e de quebra valorizar a preservação da vida! Tudo isso graças a iniciativa da Silvia Basile, da Associação Férias Vivas, que teve atuação promissora para que elas fossem desenvolvidas e publicadas. As Normas ganharam mais força pois hoje são exigidas pelo Código de Defesa do Consumidor art 39, e pela Lei Geral do Turismo 11.771, Decreto 7381, art.34, e dessa forma a aplicação das Normas se tornou obrigatória pelas agências que comercializem produtos com atividades de Turismo de Aventura.
As Normas devem ser um importante instrumento de qualificação e principalmente de fiscalização para que turistas exijam o Sistema de Gestão de Segurança implementado e rodando nas agências e empreendimentos que trabalhem com atividades de Turismo de Aventura.
Hoje temos 32 Normas Técnicas específicas, entre elas duas principais a ABNT NBR ISO 21.101 Sistema de Gestão de Segurança e a ABNR NBR 15.285 Líderes Competência de Pessoal.
As Normas são desenvolvidas e publicadas por um Fórum da Sociedade Civil que é a ABNT, onde qualquer pessoa pode opinar para melhorá-las. De 5 em 5 anos há um processo de consulta pública e eventualmente elas passam por revisões nas quais a sociedade e os envolvidos diretamente têm a oportunidade de participar.
CS - Por que o Ministério do Turismo, ou mesmo o MEC por meio dos cursos de Turismo no país, não disponibilizam formação e certificação de profissionais do turismo com base nas Normas Brasileiras ABNT?
LMR - Infelizmente a maioria dos Cursos de Turismo não abordam as Normas ABNT ou o tema Gestão de Risco, seja na graduação, pós, formação de guias ou outros do setor. De qualquer maneira precisa haver uma massa crítica para que as Normas e a Gestão de Risco seja incluída cada vez mais nessas qualificações. A Associação Férias Vivas tem uma petição na internet que procura mudar esse cenário: http://www.feriasvivas.org.br
CS - Sabemos que o Turismo de Aventura vem crescendo a passos largos no mundo e no Brasil. Nos cursos universitários qual a ênfase dada a matérias relacionadas com segurança humana em atividades do Turismo de Aventura?
LMR - Sei que existem alguns cursos que abordam as Normas, conforme respondido na questão anterior, mas são minoria, por isso a necessidade de uma massa crítica mais contundente para que seja incluída a Gestão de Risco na grade curricular. Não tenho muita intimidade com o meio acadêmico, mas a Associação Férias Vivas fez uma pesquisa mais aprofundada que confirma que realmente a abordagem é muito superficial quando é feita. Frisando que isso não é regra, existem sim instituições mais preocupadas em passar informações com mais precisão sobra Gestão de Risco nas atividades de Turismo de Aventura, aos seus alunos.
CS - O Senhor é instrutor de Normas Brasileiras ABNT para o Turismo de Aventura. A Certificação que oferece se aplica apenas a empresas ou abrange também guias autônomos?
LMR - A única Certificação existente hoje para o Turismo de Aventura é baseada na ABNT NBR ISO 21.101 que é direcionada a verificar a conformidade com os requisitos da Norma principalmente no aspecto de gestão administrativa e operacional das organizações que comercializam produtos de Turismo de Aventura. É bom frisar que para manter um Sistema de Gestão de Segurança rodando existe a exigência de um comprometimento contínuo de todos os colaboradores da empresa, incluindo os condutores, pois para manter o Sistema rodando a empresa tem que ter uma sinergia pela melhoria contínua em todos os setores.
CS - O Curso de Competências Básicas do Condutor de Turismo de Aventura - ABNT NBR 15.285 é um curso introdutório de formação de guias ou é um aperfeiçoamento para guias já formados?
LMR - Essa qualificação é direcionada tanto para condutores que já atuam no mercado quanto para aqueles que querem trabalhar de maneira correta com atividades de Turismo de Aventura nas quais também estão inseridos os segmentos de Turismo Rural e Ecoturismo.
CS - Qual o diferencial do profissional formado a partir das Normas ABNT em relação aos formados no SENAC ou nas Universidades brasileiras, por exemplo?
LMR - Creio que existem em alguns cursos do SENAC, Universidades e Faculdades as Normas ABNT inseridas nas suas qualificações, porém infelizmente são a minoria. A inserção das Normas ABNT na grade curricular causa um grande diferencial no aprendizado, pois elas foram escritas e discutidas por um grande fórum de profissionais e pessoas que tem intimidade com as atividades de Turismo de Aventura.
E quanto a estas instituições que inserem as Normas em suas grades curriculares não sabemos se o Instrutor tem proficiência no assunto, ou seja, tem uma carga de experiência técnica referente ao conteúdo que está passando. Isso conta pontos, pois a vivência no cotidiano de trabalho é bem diferente do que é visto dentro da academia.
ilustrações: fotos de Luis Marcelo Rodrigues, NOMAS, RS.
NOMAS – Descobrir é Preciso
https://www.facebook.com/nomaS.descobrir.e.preciso
Sobre o trabalho de Silvia Basile, leia aqui no Blog -> https://www.cachoeirasseguras.com/blog-1/relato-de-silvia-basile-férias-vivas
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