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Foto do escritorCachoeiras Seguras

Dia Nacional do Ciclista

Atualizado: 23 de ago. de 2020

No Brasil, pouco a comemorar e muito a mudar!


“Mas os europeus, os ocidentais, temos vivido numa Terra muito utópica. Imaginávamos que ela se desenvolveria ad infinitum, sem limites…” - Bruno Latour

Fábricas produzindo milhares de carros por dia, consumidores ávidos, dois, três ou mais carros por família, engarrafamentos diários de carros com apenas uma pessoa em cada um, horas de motores ligados, gastando combustível e poluindo o ar das cidades, impedindo caminhantes e contribuindo com uma sinfonia medonha de ruídos irritantes e desarmônicos. Esse é um cenário comum, corriqueiro, cotidiano nas grandes cidades do mundo. Pesquisadores vêm alertando há tempos - na verdade há décadas - sobre os riscos deste modelo de bem-estar que esgota o planeta, desorganiza e destrói a Natureza, desprotege e expõe a fragilidade humana seja em suas relações na Sociedade, seja na sua saúde e sobrevivência.


“O colapso ecológico não se resume à mudança climática, são vários parâmetros ou limites planetários; e, se um deles cai, se um deles é ultrapassado, tudo cai junto, é que nem um dominó. E o vírus está dentro desses subsistemas ecológicos, que constituem e sustentam a biosfera.”- Deborah Danowski

Com relação ao trânsito e ao número exorbitante de automóveis em movimento e suas consequências, países do 1º Mundo têm tomado iniciativas governamentais no sentido de aumentar o número de transportes públicos de qualidade e eficiência, diminuindo a quantidade de carros individuais, e principalmente, têm incentivado a população a mudar de atitude, a optar por caminhadas - quando possível - ou pelo uso de bicicletas, que além de não poluírem, são mais saudáveis para o planeta e para seus proprietários. A proposta de mudança é ambiciosa, é grande, mas a cada dia se comprova como única saída para uma humanidade que no passado escolheu um modelo de vida e bem-estar impossível de manter-se ou de abranger a todos, um modelo de excessiva produção e desperdício de bens que vem esgotando os recursos naturais, destruindo e poluindo o planeta. Por mais que existam grupos Negacionistas que afirmam que os recursos são infinitos (a água, o ar, as plantas, os minérios…) e que a vida como estamos acostumados não precisa mudar, o que vivenciamos em nosso dia a dia, o que sofremos são as consequências de uma vida engessada por ferros, metais, relógios, nuvens ácidas, águas poluídas, epidemias, motoristas indiferentes etc.


Em um mundo que pede cada vez mais ar puro e menos carros, menos trânsito, menos ruídos e poluição em todas as suas formas, o ciclismo no Brasil pouco tem a celebrar neste 19 de agosto, dia do ciclista. Aqui não existem campanhas de conscientização da necessidade de diminuição de automóveis motorizados nas ruas, não existem investimentos em infra-estrutura viária para ciclistas, não existem programas de educação voltados para um trânsito que valorize a vida e não as máquinas e a velocidade.


Semana passada, aqui em Brasília, dois garis voltavam de seus expedientes quando foram atingidos por um motorista bêbado que invadiu o acostamento. Tiveram morte instantânea. Há poucos meses o delegado de polícia civil Fernando César, que costumava pedalar pelas ruas da nossa capital, foi também atingido por uma motorista. Seu amigo Leonardo, que pedalava com ele, até hoje está hospitalizado, tentando se recuperar de graves sequelas. Fernando vai aposentar a bike... E a estatística segue com números cada vez maiores, escondendo faces e lágrimas!


Campanha Raul-Vive*


Conheci as histórias dos ciclistas Raul, Pedro e Edson depois de suas mortes e por meio de suas mães e esposa, que como eu, lutam no enfrentamento da perda de um filho e/ou marido. Perder um filho é a maior dor que há, e é revoltante e nos dói ainda mais se suas mortes acontecem quando queriam apenas se exercitar, se deslocar, trabalhar. São mortes evitáveis. Depois que passei a lutar por cachoeiras seguras, me deparei com um mundo de dores invisíveis. Mulheres - em sua maioria - que lutam para mudar cenários que ceifaram a vida de seus filhos, de seus amores, no trânsito, em cachoeiras, na vida...


Dia do Ciclista (no Brasil)*



Em Novembro de 2017 o Senado Federal estabeleceu o dia 19 de Agosto como Dia Nacional do Ciclista, em homenagem a Pedro Davison que morreu atropelado neste dia em 2006, em Brasília-DF. Os pais de Pedro hoje são membros ativos da ONG Rodas da Paz que promove a ideia de uma convivência harmônica entre automóveis, ciclistas e pedestres, e a enorme importância de se lutar contra a violência no trânsito. (Veja link para Documentário abaixo: "Lulu vai de Bike", do Diretor Edson Fogaça, em homenagem a Pedro Davison)


Será que custa ao motorista distanciar-se um pouco do ciclista ao passar por ele na pista? Será que custa ao empreendedor do turismo de aventura proporcionar mais segurança a seu usuário? Os motoristas que matam no trânsito, por vezes ficam 5 meses sem dirigir. Quando presos, pagam fiança e fica por aí. E nós mães? E as famílias como ficam? Sabemos que por trás destas histórias há um lento, dolorido e oneroso Recomeçar... É o que nos resta, além da saudade.


Assim como Renata Aragão, como Beth Davison e Rose Antonelli - que lutam pela humanização do trânsito - eu luto por justiça. A justiça talvez seja até secundária, mas luto principalmente por mudanças, por cenários mais civilizados, quer no trânsito ou no lazer nas cachoeiras. Nossos filhos, o marido de Rose, o casal de garis e tantos outros não irão mais pedalar, nem tomar um banho de cachoeira. Para eles acabou. Ponto final. E o mundo continua, as mudanças são urgentes, necessárias, precisamos não só diminuir o número de carros, mas também educar os motoristas em prol da vida.

“Porque o aquecimento global já está acontecendo, e nesse sentido ele é presente e passado, mas a grande negação é de que isso vá explodir, com uma dimensão muitíssimo maior do que a pandemia da Covid-19, num futuro próximo, e vai atingir todos nós, ou pelo menos nossos filhos e netos, vai atingir todos os povos, incluindo aqueles que menos emitem dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa.” - Deborah Danowski


E você que está lendo este desabafo, pense, reflita, preste atenção, porque além de suas mães, poucos prezarão por suas vidas neste mundo tão sem civilidade. A mudança começa em nós, em nossas casas, escritórios, calçadas, sentados na frente de um volante... atenção!


* Campanha Raul-Vive - Raul Aragão, ciclista da ONG Rodas da Paz, foi atropelado e faleceu em consequência do atropelamento, em Brasília em Outubro de 2017. Sua mãe, Renata Aragão, iniciou um movimento, não só para homenageá-lo, mas em prol de um trânsito mais civilizado e voltado ao respeito pela vida humana.


* Dia Nacional do Ciclista - Dia 19 de agosto passou a ser celebrado como o Dia Nacional do Ciclista. É o que estabelece a Lei 13.508/2017, sancionada e publicada no Diário Oficial da União da quinta-feira, 23 de Novembro de 2017 - Fonte: Agência Senado


* Lulu vai de Bike - Documentário de Edson Fogaça, em homenagem a Pedro Davison e sua filha Luiza, que tinha apenas 8 anos quando ele faleceu atropelado, andando de bicicleta em Brasília-DF. Com delicadeza e sensibilidade, o Diretor e a família propõem um transito mais humanizado, com respeito à vida. Assista:

(se não conseguir assistir aqui, segue link plataforma Vimeo: https://vimeo.com/349091282 )


- "Pedalar Suave", "Perigoso é dirigir feito louco"... (mães e familiares de vítimas no trânsito)


por Virgínia Miranda


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